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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O retrato da sociedade e os mil e um filósofos mortos - 305

- Furos doem - disse o cavalheiro a porta em uma discução sobre Schopenhauer e Goethe com o jovem Vitor Hugo
- A dor dói, meu caro, porem não deixa de ser prazerosa. - disse ao senhor Tatto.
- Há algo mais a acrescentar para que eu possa datilografar, Vitor?
- Calma, Malcon. Não estou no estado de espírito - respondeu com a respiração pesada.
- A questão é, existe o prazer ou, parafraseando algum dos poetas mortos, apenas a falta dor? - repetiu Tatto para o jovem.
-Me pergunto se Schopenhauer já chegou ao auge, digo, o auge do prazer sexual.
-E eu, senhor Hugo, me pergunto como seria a filosofia de Schopenhauer se a relação entre Werther e Charlote fosse uma relação homosexual. Será que toda a explicação de ser algo instintivo ainda seria a mesma?
-Mas Malcon - Respondeu o mais novo - você não pode supor tais absurdos. Não tente ser um homem a frente do seu tempo, você, mais do que todos, sabe que não há como algo assim ser chamado instintivo. Você já esteve lá... Sabe o que eu estou querendo dizer.
-Ah, meu jovem, o que houve entre eu e seu pai era para ser segredo - Retrucou com ironia - porém escrever sobre algo não torna ninguém assim, por exemplo, Oscar Wilde não virou hetero após escrever o Retrato de Dorian Grey.
-Eu sei que não, o ponto é que, duvidar de um conceito é a única coisa que nos garante a concretização do mesmo, é natural que as pessoas rejeitem o novo, o diferente... é a forma que elas encontram de concretizar o conceito, moldá-lo a fogo, por assim dizer. O que eu estou fazendo aqui é apenas reafirmar minhas bases, garantir meu pedacinho da razão.
-O amanhã trará escuridão e dor - disse Malcon antes de atirar em si mesmo e seu cérebro esparramar na parede
Ah, caçarolas, mais um adepto a neo filosofia morto. Hoje em dia não da mais pra falar com eles, reafirmam as palavras de Schopenhauer e colocam em prática os ensinamentos de Goethe. Combinação perigosa... Esse já foi o quarto essa semana, logo hoje que eu estava inspirado... Bom, que venha o amanhã, e com ele a dor e seus prazeres. Boa noite senhores.

Vitor Hugo - O retrato da sociedade e os mil e um filósofos mortos.
Discussão com M. Tatto, 18/09/1942

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Por Igor Gulicz e Leonardo Cezar em uma noite de devaneios.